MENSAGEM DO PERDÃO
Pietro Ubaldi
( 2 de agosto de 1932, dia do " Perdão da Porciúncula " de São Francisco )
Filho meu, minha voz não despreza tuas pequeninas coisas de cada dia,
mas delas se eleva para as grandes coisas de todos os tempos.
Ama o trabalho, inclusive o trabalho material.
Coisa elevada e santa, o trabalho, presentemente, foi transformado em
febre. De que não se tem abusado entre vós? Que coisa ainda não foi
desvirtuada pelo homem? Em tudo vos excedeis e, por isso, ignorais o labor
equilibrado, que tão elevado conteúdo moral encerra: se busca o necessário ao
Deus vos quer livres, já o sabeis. Pois bem, eu venho para que o equilíbrio
se restabeleça pelos caminhos do amor e da compreensão; venho para incitar-vos, com palavras de fogo, ao entendimento, estimular-vos a retomar
livremente a via da redenção; finalmente, venho ensinar-vos a fazer de vossa
liberdade um uso que vos eleve e salve, e não que vos rebaixe e condene.
Venho tornar-vos conscientes dessa Lei que vos guia e da maneira de
restaurardes a ordem violada, a fim de que essa violação não venha a recair
sobre vós, como tremendo choque de retorno que destruirá vossa civilização.
Venho para salvar-vos, para salvar o que de melhor possuís, o que
fatigosamente os séculos têm acumulado, ao preço de muitas dores e de muito
sangue.
Entre a necessidade férrea da Lei que, inexoravelmente, volve ao
equilíbrio, interponho hoje o meu amor e a minha luz, como já interpus a minha
dor e o meu martírio!
Homens, tremei! É supremo o momento. É por motivos supremos que do
Alto desço até vós. Escutai-me: o mundo será dividido entre aqueles que me
compreendem e me seguem e aqueles que não me compreendem e não me
seguem. Ai destes últimos! Os primeiros encontrarão asilo seguro em meu
coração e serão salvos; sobre os outros a Lei, não mais compensada pelo meu
amor, descerá inelutavelmente e eles serão arrastados por um vendaval sem
nome para trevas indescritíveis.
Não vos iludais: reconhecei a minha voz. Reconhecei-a pela sua imensa
tonalidade, pela sua bondade sem fronteiras. Algum homem, porventura, já
falou assim? falo-vos de coisas singelas e elevadas, de coisas boas e terríveis.
Sou a síntese de todas as Verdades.
Não me oponhais barreiras de vossas almas, mas escutai, ponderai, deixai
que este raio de luz que vem de Deus desça à vossa consciência e a ilumine. Eu
vô-lo rogo, humilhando-me em vossa presença; humildemente, para vossa
salvação, eu vos suplico: escutai a minha voz!
Que sobre vós desça a paz. A paz! A paz que não mais conheceis venha
sobre vossas almas! Entre vós e a divina justiça está minha oração: "Deus,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".
Pobres seres perdidos na escuridão das paixões; pobres seres que tomais
por luz verdadeira o ouropel fascinador das coisas falsas da Terra! Pobres seres,
maus e perversos! E, no entanto, sois meus filhos e por amor de vós de novo
subiria à cruz para vos salvar. Pobres seres que, numa vitória efêmera de
matéria, que chamais civilização, haveis perdido completamente o único
repouso do coração — a minha paz.
Escutai-me. Falo-vos com amor, imenso amor. Fui por vós insultado e
crucificado, e vos perdoei; perdôo-vos ainda e ainda vos amo. Trago-vos a paz.
Até junto de vós retorno para falar-vos de uma ciência que a vossa não
conhece, para pronunciar-vos a palavra que nenhum homem sabe falar, palavra
que vos saciará para sempre. Escutai-me.
Minha voz conduzirá vosso coração a um êxtase que nenhuma vitória
material, que nenhuma grandeza do mundo jamais vos poderá dar.
Como um clarão intuitivo, minha luz espargirá sobre vós uma
compreensão a que os laboriosos processos de vossa razão não chegarão
jamais. A razão, filha do raciocínio, discute e calcula, mas eu sou o clarão que
em vós se acende e pode, num átimo, transformar-vos em heróis. Aceitai,
suplico-vos, este supremo dom que vos ofereço e pelo qual vim de tão longe até
junto de vós: aceitai esta dádiva esplêndida, que é a minha paz. É a bemaventurança do céu, que vos trago de mãos cheias; é a felicidade que coisa
alguma terrena jamais vos poderá dar. Reconhecei a minha paz! Para recebê-la,
abri todas as portas de vossa alma! Dela saciai-vos, com ela inebriai-vos! É um
dom imenso que vos trago do seio de Deus, é uma graça com que o meu
imenso Amor recompensa a vossa ingratidão.
Até vós eu venho, trazendo os mais lindos dons, para derramar sobre
vossas almas a verdadeira felicidade. Venho para suavizar a Justiça Divina. Fiz
longa e fatigante viagem, do meu Céu radioso às vossas trevas. Vim
espontaneamente, pelo amor que vos consagro. Não renoveis as torturas do
Getsêmani, as angústias da incompreensão humana, os tormentos de um
imenso amor repelido.
Quem sou eu? - perguntais-me.
Sou o calor do sol matinal que vela o desabotoar da florzinha que ninguém
vê; sou o equilíbrio que, na variação alternadora dos elementos, a todos garante
a vida. Sou o pranto da alma quebrantada, em que desabrocha a primeira visão
do divino. Sou o equilíbrio que, nas mudanças dos acontecimentos morais, a
todos promete salvação. Sou o rei do mundo físico de vossa ciência; sou o rei
do mundo moral que não vedes.
Sempre me procurais, em toda a parte. Sempre mais profundamente vos
escapo, de fibra em fibra, nas vossas mesas de anatomia, de molécula em
molécula nos vossos laboratórios. Vós me procurais, dilacerando e dissecando
a pobre matéria: mas eu sou espírito e animo todas as coisas. Não com os olhos
e os instrumentos materiais, mas somente com os olhos e os instrumentos do
espírito podereis encontrar-me.
Sou o sorriso da criança e a carícia materna; sou o gemido daquele que
corre implorando salvação; sou o calor do primeiro raio de sol da primavera,
que traz a vida e sou o vendaval que traz a morte; sou a beleza evanescente do
momento que foge; sou a eterna harmonia do universo.
Sou Amor, sou Força, sou Idéia, sou Espírito que tudo vivifica e está
sempre presente. Sou a lei que governa o organismo do universo com
maravilhoso equilíbrio. Sou a Força irresistível que impulsiona todos os seres
para a ascensão. Sou o cântico imenso que a criação entoa ao Criador.
Tudo sou e tudo compreendo, até o mal, porquanto o envolvo e o limito
aos fins do bem. Meu dedo escreve, na eternidade e no infinito, a história de
miríades de mundos e vidas, traçando o caminho ascensional dos seres que para
mim se voltam, seres que atraio com meu Amor e que recolherei na minha luz.
Muitos mundos já vi antes do vosso, muitos verei depois dele. Vossas
grandes visões apocalípticas para mim são pequeninas encrespaduras nas
dimensões do tempo. Virei, entre raios de tempestade, para dobrar os
orgulhosos e elevar os humildes. Virei vitorioso na minha glória e no meu
poder, triunfante do mal, que será rechaçado para as trevas.
Tremei, porque quando eu já não for o Amor que perdoa e vos protege,
serei o turbilhão que tempestua, serei o desencadear dos elementos sem peias,
serei a Lei que, não mais dominada pela minha vontade, trazendo consigo a
ruína, inexoravelmente explodirá sobre vós.
Tudo é conexo no universo; causas físicas e efeitos morais, causas morais
e efeitos físicos. Um organismo compressor vos envolve e nele estais presos em
cada ato vosso.
Minha poderosa mão firma o destino dos mundos e, no entanto, sabe
descer até a mais humilde criancinha para lhe suster, carinhosamente, o pranto.
Essa é minha verdadeira grandeza.
Ó vós que me admirais, tímidos, no ímpeto da tempestade, admirai-me,
antes, no poder que tenho de fazer-me humilde para vós, no saber descer do
meu elevado reino à vossa treva; admirai-me nessa força imensa que possuo de
constranger meu poder a uma fraqueza que me torna semelhante a vós.
Não vos peço que compreendais meu poder, que me situa longe de vós;
rogo-vos que compreendais o meu amor que me assemelha a vós e me coloca
ao vosso lado. Meu poder poderá desalentar-vos e atemorizar-vos, dando-vos
de mim uma idéia não justa, a de um senhor vingativo e despótico. Não quero
vossa obediência por temor. Agora deve despontar uma nova aurora de
consciência e de amor. Deveis elevar-vos a uma lei mais alta e eu retorno hoje
para anunciar-vos a boa nova. Não sou um senhor vingativo e tirânico, como
outrora, por necessidade, me supuseram os povos antigos; sou o vosso amigo e
é com palavras de bondade que me dirijo ao vosso coração e à vossa razão.
Não mais deveis temer, mas, sim, compreender. Vossa razão infantil já
acordou e nela venho lançar minha luz. Sou síntese de verdade e em toda a
parte ela surgirá, atingindo a luz da vossa inteligência.
Não trago combates, mas paz. Não trago divisões de consciência e, sim,
união de pensamentos e de espíritos.
A humanidade terrestre aproxima-se de sua unificação, numa nova
consciência espiritual. Não vos insulteis, pois; antes, compreendei-vos uns aos
outros. Que cada um concorra com o seu grãozinho para a grande fé e que esta
vos torne todos irmãos.
Que a religião, que é revelação minha, e a ciência, que é o vosso esforço e
todas as vossas intuições pessoais se unam estreitamente numa grande Síntese,
e seja esta uma síntese de verdade.
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