A PIEDADE


A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade,  que  vos  conduz  a  Deus.  Ah!  Deixai  que  o  vosso  coração  se  enterneça  ante  o  espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes. Vossas lágrimas  são  um  bálsamo  que  lhes  derramais  nas feridas  e,  quando,  por  bondosa simpatia, chegais  a lhes proporcionar  a esperança  e a resignação,  que encanto  não  experimentais! Tem um certo amargor, é certo, esse encanto, porque nasce ao lado 
da desgraça; mas, não tendo o sabor acre dos gozos mundanos, também não traz as  pungentes  decepções  do  vazio  que  estes  últimos  deixam  após  si.  Envolve-­o  penetrante suavidade que enche de júbilo a alma. A piedade, a piedade bem sentida é  amor; amor é devotamento; devotamento é o olvido de si mesmo e esse olvido, essa  abnegação em favor dos desgraçados, é a virtude por excelência, a que em toda a sua  vida praticou o divino Messias e ensinou na sua doutrina tão santa e tão sublime.  Quando  esta  doutrina  for  restabelecida  na  sua  pureza  primitiva,  quando 
todos os povos se lhe submeterem, ela tornará feliz a Terra, fazendo que reinem aí a  concórdia, a paz e o amor.  O sentimento mais  apropriado  a fazer  que  progridais,  domando  em  vós  o  egoísmo e o orgulho, aquele que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao  amor do próximo, é a piedade! Piedade que vos comove até às entranhas à vista dos  sofrimentos de vossos irmãos, que vos impele a lhes estender a mão para socorrê-los  e  vos  arranca lágrimas  de simpatia.  Nunca,  portanto,  abafeis  nos  vossos  corações  essas  emoções  celestes;  não  procedais  como  esses  egoístas  endurecidos  que  se  afastam  dos  aflitos,  porque  o  espetáculo  de  suas  misérias  lhes  perturbaria  por 
instantes a existência álacre. Temei conservar-­vos indiferentes, quando puderdes ser  úteis. A tranqüilidade comprada à custa de uma indiferença culposa é a tranqüilidade  do mar Morto, no fundo  de  cujas  águas se  escondem  a  vasa fétida  e a  corrupção.  Quão longe, no entanto, se acha a piedade de causar o distúrbio e o aborrecimento de  que se arreceia o egoísta! Sem dúvida, ao contacto da desgraça de outrem, a alma,  voltando-­se para si mesma, experimenta um confrangimento natural e profundo, que  põe  em  vibração  todo  o  ser  e  o  abala  penosamente.  Grande,  porém,  é  a  compensação, quando chegais a dar coragem e esperança a um irmão infeliz que se  enternece ao aperto de uma mão amiga e cujo olhar, úmido, por vezes, de emoção e  de  reconhecimento,  para  vós  se  dirige  docemente,  antes  de  se  fixar  no  Céu  em  agradecimento  por  lhe  ter  enviado  um  consolador,  um  amparo.  A  piedade  é  o  melancólico, mas celeste precursor da caridade, primeira das virtudes que a tem por 
irmã e cujos benefícios ela prepara e enobrece. – Miguel. (Bordéus, 1862) 

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec

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